O que dizer de mim?....
Um currículo mais que pessoal....
... e naquele dia eu tinha que comparecer à secretaria da faculdade Metodista para saber se o meu pedido de transferência do segundo ano do curso de psicologia para o curso de letras havia sido aprovado. As transferências só poderiam acontecer até aquele ano. Eu estava no terceiro semestre e era 1979.
Encostei no guichê da secretaria, o peito cheio de expectativas. Nem lembro se precisei dizer alguma coisa à secretária, mas, lembro sim que ela sorriu e disse: Rosana, sua transferência foi aprovada! É só fazer a matrícula.
Voltei para a sala – eu havia saído no meio da aula, era uma ocasião para eu respirar. No caminho, a sala era a última do corredor de pastilhas verdes, o meu coração taquicardiava por dois motivos: primeiro porque era a oportunidade de eu ingressar no ambiente, na carreira, nos estudos, nas matérias, nas atividades que eu acreditava que me fariam feliz. O segundo motivo era porque eu sabia que não ia ser fácil dizer aos meus pais que queria abandonar o curso de psicologia em que eu havia caído de paraquedas. Eles viriam com aquela história de ter jogado dinheiro fora e eu ainda não tinha nem discernimento, nem independência de dizer que quando se trata de educação nunca jogamos dinheiro fora.
Quando entrei na sala, antes de sentar à minha mesa, olhei tudo em volta. O ar estava visivelmente pesado e o que eu estava sentindo foi o que me levou mais perto da sensação de encarceramento. Quando me sentei eu já tinha certeza que não conseguiria realizar aquela mudança e que eu estava irremediavelmente comprometida em frequentar aquele curso por mais três anos e meio.
Esse evento me mostrou que passei a maior parte da minha vida tentando fazer meus pais felizes, o que não consegui, é claro! Mas isso já é outra história. E para terminar essa parte triste tenho que dizer que em 1985 (colei grau em fevereiro de 1983) comecei a fazer matérias como aluna especial no curso de pós-graduação na mesma Faculdade Metodista, hoje Universidade Metodista de São Paulo. Alunos especiais eram aqueles que ainda não pertenciam à categoria de aluno regular, ou seja, eu ainda não havia apresentado um projeto de dissertação de mestrado e poderia então cursar só uma matéria por semestre. Era o que o meu bolso de recém-formada permitia.
Demorei um tantão, quase uma vida, para entender que essa dificuldade em escolher a meu favor custou-me episódios depressivos e o agravamento de uma insônia que datava desde a infância, decorrente de um distúrbio neurológico. Não sei em que momento percebi que, durante as minhas insônias, ao invés d’eu ficar “fritando” ficava sim inventando histórias. Era aguada de desejo de montar uma pequena gráfica, mesmo que fosse com um mimeógrafo. Sim, não eram tempos de impressoras nem PCs. O DOS ainda não tinha chegado ao domínio civil. Era só para o uso militar e os computadores eram enormes e ameaçadoras máquinas de fritar cérebros humanos.
A minha Gazeta Insônia sobreviveu no âmbito do sonho durante muito tempo mesmo. Em 2008 reservei o domínio e eu tinha uma página gratuita no Recanto das Letras – um site para aqueles que amam escrever e o fazem por hobby. Dei uma promoção à página e passou a ser a primeira edição modesta da minha sonhada Gazeta.
Muita água rolou e doze anos depois a minha amada e mais que sonhada Gazeta Insônia, tal como uma fênix, ressurge das cinzas e agora para ficar. Vou caminhando o caminho, sonhando e escrevendo.
Vem sonhar comigo!
