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A HORA DA INSÔNIA

  • Foto do escritor: Rosana Almeida
    Rosana Almeida
  • 5 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Uma [leitura] rapidinha. Não vá dormir sem ela.


INTRODUÇÃO


Um casal. Ela sofria de insônia e a insônia dela contagiou o marido. Ela não tem nome. Ela é Ela. Ele é Ele. Quem tem nome é o gato, Gato Tom. E tem mais um personagem - o Galo Gigante do vizinho. O casal mora numa granja. Eles mudaram para essa granja depois que ele passou a ter insônia com ela e não se conformou como ela aguentava o barulho da noite na cidade. A hora da insônia acontece antes do galo Gigante do vizinho cantar a primeira vez.

O contexto atual é a pandemia, claro! São situações leves. Eles se amam e se respeitam. São amigos. às vezes tem uma pitada de erotismo, mas é só insinuação.

Os episódios são publicados às sextas-feiras, por volta das 17 horas. Uma happy hour para dar leveza ao final de noite e da semana.

Acompanhe-me nesta deliciosa viagem por diversas situações que o casal vai viver, discutir, brincar e amar, é claro. Venha que vai ser bom.


A HORA DA INSÔNIA 1

Ela, às três da matina, na hora de praxe, começou a perceber que o gato Tom elegera, naquela noite, seu tornozelo como um travesseiro felino, A cabeça do bichano, junto com as cobertas, pesava, provável sinal de inteligência gatuna que, para ela, mãe humana de criatura quadrúpede, não era de surpreender.

Percebia também que a sua cabeça, a dela, pendia para o lado esquerdo num alongamento iniciado não sabia definir há quanto tempo, mas que pedia uma compensação. Sensações estas que, ao se somarem, gritavam num alarme de volume crescente em seu interior: "Você está acordando.... você está acordando... você está acordando... você está acordada! "

Ajeitava a nuca no travesseiro que há muito pedia para ser trocado, sentindo a gelada estampa da fronha e passou a caminhar a mão para o lado direito da cama. Passos delicados e silenciosos. Um estica encolhe de dedos e palma, escorregando na direção do objetivo desejado: a mão dele, o parceiro de vida que a compreendia até enquanto dormia.

Ela não queria acorda-lo. Ia só encostar o dorso da mão na dele. Era assim que ela pedia: "segura a minha mão!?" E ele nunca se queixou. Envolvia a fina e delicada mão com a grande e sábia mão dele. Mão de homem acostumado a permitir que as sensações dela guiassem o caminho dos dois.

Naquela noite uma coisa estranha aconteceu. Demorou alguns passos a mais e aquele objetivo, o goal da noite, não chegava. Ao contrário, encontrou a borda do colchão e isso a fez abrir definitivamente os olhos e procurar, olhando para o alto e esquerda de si mesma uma resposta para aquilo tudo.

Enfim, saindo do transe, voltou-se para a direita assustada. Um susto breve porque logo veio a lembrança: estavam dormindo em camas separadas desde o início da pandemia. Olhou e viu ele sentado na beira da outra cama, a improvisada, no seu pijama preferido que lembrava um de bebês que ainda usam fraldas. Compra maluca que insistiu em efetivar, na última viagem que fizeram para um país frio.

Ensimesmado. Os cotovelos apoiados nos joelhos afastados e a face dirigida ao chão parecendo brigar com pensamentos que lia no tapete. - Algum problema? - Perguntou ela e só então percebeu que ele estava de máscara. - Seria muito pedir que você me explicasse a necessidade da máscara? Nessa hora?

Ele olhou para ela sentindo uma confusão entre vergonha e entrega:


- Sentindo vontade de te beijar. Muito...


Ela sorriu e esticou o braço na direção dele. Ele retribuiu o gesto e se tocaram...


... nas unhas.




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