A HORA DA INSÔNIA DOZE
- Rosana Almeida
- 14 de ago. de 2020
- 2 min de leitura
Uma [leitura] rapidinha. Não vá dormir sem ela.
Galo Gigante do vizinho ainda não tinha cantado pela primeira vez e estava frio. O casal estava, cada qual encostado em seus dois travesseiros, Ele olhando para a frente e para o nada. Ela, também olhando para a frente, mas curiosa sobre o porquê a Gata Filó não parar um minuto num mesmo lugar. Entrava e saia do quarto. Espiava a rua pela fresta quebrada da veneziana. O Gato Tom pensa... Mas que menina inquieta! Ainda não descobriu que o escuro é para se dormir. Vem pra cá que a cama é boa!
Ele:
– Isso nunca aconteceu comigo antes...
– Não esquenta meu bem, essas coisas acontecem.
– Pode até acontecer com os outros, mas comigo não. Pelo menos eu nunca permiti que acontecesse...
– Mas o que será que essa gata tem?
– Como?
– A Filó. Você já percebeu como ela é inquieta? Num primeiro momento, quando vocês chegaram, ela me pareceu tranquila.
– Desculpe, meu bem. No momento não estou conseguindo pensar em mais nada. Só consigo pensar em como isso foi acontecer comigo?
– Não se recrimine tanto. São muitas coisas para pensar. A gente falha mesmo.
– Meu bem, isso é uma coisa muito séria para mim. É quase o mais importante em minha escala de valores.
– Também não é assim, né?
Ele olha sério para Ela...
– Ou será que é?
Ele volta a cabeça na posição anterior.
Ela sai debaixo das cobertas e vai atrás da gata Filomena. Não aguentou quando viu a velocidade com que a bichana partiu da janela em direção a porta do quarto e escada abaixo. Demora um tempo e quando volta carrega um cesto de palha com pontas de panos transbordando para fora...
– Meu bem! Vem ver! Era por isso que a Gata Filó estava inquieta...
– O que tem aí dentro? E onde estava essa cesta?
– No portão! Dá uma olhada!
Dento do cesto, embrulhada em cobertores infantis, uma gatinha siamesa bebê. Era bem pequena. Não parecia faminta. Estava de barriguinha cheia. Parecia querer dormir. O Gato Tom cheira e pensa: Essa parece ser das minhas...
Coloca o cesto bem do lado da cama, não querendo quebrar um vínculo já estabelecido. Deita e se cobre, tentando recuperar o calor que perdeu. Vai encaixando o ombro direito, aquele que dói, entre o travesseiro e corpo do seu amado forçando assim que Ele se voltasse para Ela.
– Querido, amanhã teremos muito que pensar. Vamos terminar a madrugada do jeito que mais gostamos?
– Você manda! Posso te pedir uma coisa?
– Mas claro! O que você quer de mim?
– Me ajuda a não esquecer de novo a reunião anual de fãs do Stars Wars? Por favor?
Ela sorri e o beija de uma forma eloquente e que só Ela sabia e Ele entendia tudo.
E naquela manhã, o Galo Gigante do vizinho cantou de uma forma linda, como jamais tinha se ouvido na região.
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