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A HORA DA INSÔNIA 4

  • Foto do escritor: Rosana Almeida
    Rosana Almeida
  • 26 de jun. de 2020
  • 2 min de leitura

Uma [leitura] rapidinha. Não vá dormir sem ela.


Ela despertou para a insônia de sempre particularmente feliz. Ele havia desistido daquela ideia maluca de dormir em camas separadas durante a pandemia. Nunca havia notado, em seu companheiro, qualquer sinal de hipocondria, mas tinha que admitir que seu humor não era mais o mesmo. Mas de alguém era? Provavelmente não. Nem o seu.


O gato Tom havia dado uma força se apoderando e se espichando da cama de campanha e não havia rato esperto ou borboleta lépida que o tirasse dali. Um fiel amigo de sua dona.


– Você já acordou? – Falou Ele com aquela voz rouca que já a deixava ligada.

– Sim. E você?

– Caso não esteja acordado, estou alucinando. E você também.

– (risos) Verdade verdadeira.

– São só essas verdades que sei dizer e que digo a você.


Disse essa frase se achegando mais a Ela e baixando o tom de voz no final da frase. Era o início do diálogo que acalentava a chegada do sono da manhã ou...

– Vamos deixar a nossa comunhão de bens se estender apenas à insônia. Melhor as alucinações e delírios ficarem na categoria de bens particulares. – Disse Ela, também se aconchegando mais a Ele e interrompendo o próprio pensamento.

– Na saúde e na doença. Amando-te e respeitando-te...

– Querido, se os dois entrarem num mesmo delírio, quem ajuda o outro encontrar a saída?

– O gato Tom...

Graças! Esse era o humor de seu companheiro. Ele fingia não estar acompanhando a seriedade de suas observações. Era assim que dava leveza à vida. E como ela precisava disso!!

– Posso voltar aos votos? – Falou ainda mais baixo para que Ela precisasse chegar mais perto. Mas mais perto não dava, só se entrasse dentro...

– Sim! Por favor...

– Amando-te e respeitando-te por toda a Eternidade e por todas as Eternidades que ainda vierem.

– Promete?

– É o que estou fazendo.

– Promete uma outra coisa?

– Fala. Mas já está prometido.

– Eternidade é bastante tempo... Não vá se cansar de preparar meu desjejum...

Essa frase foi dita num tom de quem já estava a caminho dos braços de Morfeu. Uma fala entrecortada, mas de quem sabia que todas as sílabas cairiam dentro dele e se encaixariam perfeitamente em uma comunicação não verbal, mais que eloquente.

– Tenho uma condição para essa promessa. – Disse Ele, colocando uma peça inesperada no quebra-cabeça da noite, só para atrapalhar a harmonia perfeita. Como era bom desarmonizar. Ele sabia que ela gostava, se sentir caindo num vácuo inesperado e ser amparada por ele, por seus braços. Ele gostava do que era bom a Ela.

– Tá bom, vai...

– Ficamos intimamente comprometidos em prepara o desjejum do outro.

– (silêncio, uma fração de segundos)

Demorou um tantinho para cair a ficha dentro dela, fazê-la corar, arregalar os olhos e ficar desarmada, sem palavras. Era esse o start. O começo de tudo.

E Morfeu foi procurar, em outras bandas, alguém para se deitar e dormir em seus braços.

E o Galo Gigante do vizinho não cansava de anunciar que o dia já havia começado.

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