A HORA DA INSÔNIA 2
- Rosana Almeida
- 12 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
Uma [leitura] rapidinha. Não vá dormir sem ela.

《《 RAPIDINHA DA NOITE DO DIA DOS NAMORADOS 》》
Ela nem olhou que hora era. O seu relógio biológico não falhava ou melhor, há muito que havia uma falha no seu aparelho do sono. Simplesmente não conseguia "grudar" dois sonos importantes e tinha que enfrentar duas horas de solidão todas as noites. A palavra solidão é indevida pois, seu parceiro fora sensivelmente contagiado por aquele distúrbio e não a deixava enfrentar a má boa sorte sozinha. Já fazia tempo que ela não sabia ou não podia afirmar que não gostava daquilo. Casal de paradoxos.
Mas aquela noite seria diferente. Deixando as lembranças impregnando o colchão, levantou-se e foi para o chuveiro, sem antes confirmar que ele dormia profundamente. Deixou no armário de toalhas a lingerie que comprara para aquela ocasião. Deu trabalho burlar a atenção dele para tudo que chegava de fora. Ele era muito cuidadoso com todas as compras que vinham através do Delivery e as encomendas que faziam pela internet. Se armava de máscaras, luvas e óculos e só tirava após ter gasto uma boa porção do álcool 70 que estocou desde o início da pandemia.
Achava engraçado como ele tinha construído uma fronteira para a guerra ao COVID -19 e sequer cogitava a possibilidade de contraria-lo. Como, graças, toda regra tem uma exceção, aquela noite ia fazer uma surpresa. Quando ele acordasse ela estaria deitada ao seu lado na improvisada cama de campanha em que ele insistia dormir há mais de noventa dias. Enquanto perdia pensamentos nos vapores do banho quente amarrou um deles e não o deixou fugir. Já fazia tempo que ele não saia, o suficiente para saberem que estavam bem. O dia dos namorados na pandemia ia começar com o que mais gostavam de fazer juntos - AMOR. E ela não via a hora de reconhecer sua expressão de surpresa. Escovou os cabelos numa tentativa de interromper os pensamentos que atrasavam o encontro. Um toque do perfume que ele mais gostava e saiu para fora.
As luzes do quarto estavam acesas. Cadê ele?!! Foi o que pensou quando viu a cama vazia. Fica calma! Respira e segura o clima! Disse para si mesma.
Não sabia se esperava ou se saia procurando ele pela casa ou pelo menos pelo andar de cima do sobrado. Não demorou muito para saber que não precisaria fazer nem uma coisa nem outra quando ele entrou, cômico, com seu preferido avental de churrasco por cima de seu pijama de bebê grande e travesso...
- Oi! Você dormiu a noite inteira. Não foi ótimo? Você está se sentindo bem assim?
- Muito bem... Nem percebi isso. Mas que horas são?
- Quase oito.
- Puxa...
- Surpresa, meu bem - disse ele. - Nosso dia dos namorados na pandemia vai começar com aquilo que mais gostamos de fazer juntos.
- Sim!! Vamos!! disse ela, num sorriso difícil de conter.
Ele se voltou e foi buscar algo no corredor. Ela não ficou surpresa quando ele entrou com o carrinho de apoio de refeições que tinha comprado para as inúmeras vezes que passaram o dia no quarto.
- Hoje faremos o que você mais gosta: brunch! Ainda bem que você demorou no banho e me deu tempo de preparar tudo que você gosta.
- Mas não é mesmo???
Sentaram-se, cada um na beirada da sua cama com o carrinho de chá entre eles. Não iam deixar o chá esfriar.
Esse era o homem que ela amava. O dia estava só começando. E o gato Tom assistia a tudo.
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