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FESTA DE BABETE ou UMA QUESTÃO DE PALADAR

  • Foto do escritor: Rosana Almeida
    Rosana Almeida
  • 30 de jul.
  • 5 min de leitura
Então, e naquele condomínio tem um outro cara muito, mas muito legal e que para ele tudo é uma questão de paladar.
Então, e naquele condomínio tem um outro cara muito, mas muito legal e que para ele tudo é uma questão de paladar.

Conheci o Jota Erre, é assim que eu o chamo, da forma mais inusitada para as histórias que já vivi. Fui apresentada primeiramente à sua comida. A palavra “comida” para o que Jota Erre prepara deixa muito a desejar. Melhor seria “alimento”. Sim, porque com ele não apenas comemos, mas principalmente nos alimentamos. É que para nós, humildes mortais, a forma mais gratificante de nos alimentarmos é com muito sabor e o alimento preparado por Jota Erre transcende e nos farta de sabor.

Gostaria, entretanto de deixar registrado aqui o que foi para mim uma das experiências mais ricas em conteúdo emocionais.

Era antevéspera da páscoa, envolvida com um capítulo de uma história de ficção, quando me chega uma mensagem do Diego que é o outro cara bacana citado na crônica Histórias de Condomínio, me perguntando se eu gostava ou comia peixe, camarão e bacalhau. Convenhamos que esta não é uma pergunta corriqueira. Sim! Claro! E eu também não sabia que aquela mensagem anteciparia um carrossel de boas emoções que estavam por vir, em plena pandemia.

E o almoço chegou, lindo, cheiroso, quente e para a minha rápida percepção, com fartura de tempero de amor fraterno. E que diferença faz quando um prato contém este tempero. A gente degusta sorrindo e pode acreditar, não é só pelo sabor e sim pelo amor que só pessoas frias e insensíveis não podem captar.

E quando conheci o autor da arte comestível que passei a degustar, não só pela sua generosidade, mas pelo prazer que ele sente em fazer pessoas felizes e se sentirem amadas é que descobri que o “papo”, a conversa com Jota Erre sobre a arte de bem cozinhar também tem muito sabor.

Sua formação em gastronomia foi dirigida à área da saúde com especialidade em culinária regional e Jota Erre é um bom baiano (antes de qualquer protesto, baiano, pessoa natural da Bahia, se escreve sem “agá”), eu digo da gema baiana. Jota Erre será sempre um baiano orgulhoso de sua origem esteja onde for neste mundão de Deus.

E esta mistura beneficamente explosiva me propiciou conhecer alguns poderes da culinária orgânica, feita com arte. Eu que já comia devagar desde uma reeducação alimentar com uma nutricionista passei, não só a degustar vagarosamente o alimento, tentando identificar cada sabor como também a sonhar com experiências e emoções a muito esquecidas e que, de repente, voltavam à memória. Estava se formando, dentro de mim, um novo quebra-cabeça de trocentas mil peças e cores, trazendo lembranças afetivas da infância e aspectos da minha identidade que queriam e merecem ser integrados. Será que subestimei a ação da corriqueira repressão?

E foram festivais de farofas, feijoadas, risotos, torradas, arroz – eu que nunca fui fã passei a gostar muito, lavado, calmante ou farofa; massas, saladas, filés, peixes e muito camarão. Certamente estou esquecendo muita coisa. Sobremesas, bolos, mousses, molhos de temperar saladas com geleias de maracujá, tangerina, pimenta e romã. Muito açafrão cúrcuma, dendê, óleos de coco e abacate. Muita pimenta, como eu gosto. O mágico acarajé, bem quente, com o igualmente mágico vatapá. Passei a ter meu critério de avaliação. Tinha pratos que me faziam fechar os olhos para que eu simplesmente ficasse com a experiência do paladar, mas tinha aqueles que, ao contrário, me faziam arregalar os olhos e a procurar, em algum canto da mente algo tão bom que seria um equivalente afetivo ou não, seria sim uma experiência inusitada? E aqui entram tapiocas, crepes e, principalmente, os bolos e manjares que me fizeram suspirar. Se o bolo de banana tinha a minha preferência perdeu para o de abacaxi com castanha de caju que tirou de mim uma crônica só para ele porque arte se elogia com outra arte. O suspirar enquanto degusto um prato do Jota Erre é o critério indiscutível que o classifica para a categoria dos preferidos. Passei a colecionar adjetivos porque gostoso ou delicioso é muito pouco para qualquer coisa que ele prepara. Até para o famigerado quiabo e sua característica baba.

E foi nessa viagem em busca de adjetivos, principalmente para um determinado manjar que é iguaria para um Deus e que chamo carinhosamente de um jeito sofisticado de comer Romeu e Julieta foi que me aventurei em uma de minhas escrituras preferidas, senão a mais. A parábola dos talentos que se encontra em Mateus 25 de 13 a 31. Jesus ensina...


13 Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do Homem há de vir. 14 Porque será também como um homem que, partindo para fora da sua terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens; 15 E a um deu cinco talentos, e a outro, dois, e a outro, um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe.16 E tendo ele partido, o que recebera cinco talentos negociou com eles, e granjeou outros cinco talentos.17 Da mesma forma, o que recebera dois granjeou também outros dois;18 Mas o que recebera um foi enterrá-lo no chão, e escondeu o dinheiro do seu senhor.19 E muito tempo depois veio o senhor daqueles servos, e ajustou contas com eles. 20 Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei com eles.

Jesus ensina:

21 E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. 22 E chegando também o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; eis que com eles granjeei outros dois talentos. 23 Disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. 24 Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; 25 E atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. 26 Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabes que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei; 27 Por isso te cumpria dar o meu dinheiro aos banqueiros, e quando eu viesse, receberia o meu com os juros. 28 Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos. 29 Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem será tirado. 30 Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes. 31 E quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;

O Filho do Homem já está às portas

Então, Jota Erre, quando o Filho do Homem voltar, o Senhor da Vinha, porque Ele voltará! Já está às portas! E quando estiver na tua frente, irá te perguntar: “Jurandy, o que fizeste com o talento que deixei para ti?” Pega a poltrona mais confortável que encontrar. Oferece ao Senhor para que se acomode e espere por vinte, quarenta minutos. O que serão estes para quem é o dono do tempo? Prepara um banquete digno da Sua Glória! Se me permite a sugestão: acrescenta no cardápio Um jeito sofisticado de comer Romeu e Julieta, mas não deixe de perguntar antes se Ele gosta de quiabo...

 


 
 
 

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