top of page

HOMENAGEM AO PAI



Hoje ele faria 87 anos. O senhor Joaquim Milton de Almeida, meu pai.


Nunca fui de falar com quem passou dessa para uma melhor através de minhas redes sociais, entretanto, deu vontade de escrever, de contar para ele e tornar público como foi o processo ‘deu’ passar a vê-lo como meu super-herói. Aí vai, então.

Pai, quero te contar a lembrança que tenho de duas ocasiões mais que especiais e que talvez você nunca tenha imaginado como deixaram marcas felizes em mim.


Uma vez você foi me levar na manicure na rua Municipal, quase esquina com a avenida Kennedy. Estava esperando chegar o meu horário quando vi, do outro lado da rua um cachorro Collie, muito lindo. Estava arrastando uma das patas traseiras. Sentia dor e talvez tenha sido atropelado. Devia estar perdido. Não posso considerar que ao invés de perdido tenha sido abandonado. Ah, não…

Sinto intensa dor ao lembrar e forte angústia enquanto escrevo.


Peguei o celular e liguei para a clínica veterinária das nossas meninas caninas, Carol e Shine. Atendeu uma secretária antipática que me nego a identificá-la aqui, neste meu espaço. Expliquei a situação. A clínica era na mesma rua em que eu estava só que do outro lado da avenida, próximo de onde o Collie estava se arrastando e havia um táxi-dog parado na frente da clínica. Pedi que viessem buscar o cachorro para ser tratado e daríamos um jeito de encontrar o dono.


– Não podemos ir buscar, não – respondeu a antipática – Se a gente for ajudar a todos que precisam…

– Mas eu não estou pedindo para ajudar a todos. Estou pedindo para ajudar este.

– É, mas, não podemos não.


Se bem me lembro, pedi para falar com a médica veterinária, mas, a antipática não passou a ligação. Enquanto eu falava ao telefone o Collie desceu a rua e virou à direita na avenida. Perdi ele de vista. As pessoas passavam indiferentes ao cachorro machucado. Ninguém se mobilizou.


Quando desliguei o telefone caí numa crise de choro. Sentia o extremo da impotência. Dói quando penso na autonomia que não tive para resolver a situação.


As pessoas no salão me olhavam com estranheza, como se nunca tivessem visto alguém sentir empatia por outro alguém sofrendo. Ninguém me perguntava o que estava acontecendo. Ninguém estava disposto a se juntar a mim. Agiram comigo como agiam com o cachorro. Com indiferença.


Quando terminei de fazer as unhas, meu pai, você veio me buscar. Ao entrar no carro desabei em uma nova crise de choro e contei o que havia acontecido. Você, me ouvindo, disse:


– Por que você não disse: Eu vou pagar!!?

Pois é pai, eu não disse. Quando lembro que você me ajudaria a pagar e que não considerei que seria solidário, como foi tantas vezes em minha vida. Eu ainda não te conhecia. Não cabe aqui elencar as circunstâncias que impediram uma aproximação maior entre nós. Voltando…


Quando chegamos em casa, você se adiantou a contar para a mamãe:


– Eu disse para ela: Por que você não disse “Eu vou pagar”?


E a mamãe? Bem, a mamãe teve uma reação semelhante à dos transeuntes – indiferença. Nunca tinha reparado, até então, como éramos parecidos.


A outra ocasião mais que especial aconteceu enquanto eu assistia o show Partimpim da Adriana Calcanhoto. Era apaixonada por aquele show. Tal criança que quer ouvir o mesmo conto de fadas inúmeras vezes, eu assistia esse show vezes seguidas. Só um detalhe significativo: eu já era adulta. Vocês, familiares, deviam me achar maluca. Eu ouvia aquelas músicas relaxantes em alto volume e sentia-me muito feliz.


Você ia me espiar na sala de TV várias vezes e tirava seus pitacos. Chegava até o batente da porta curioso. A música era contagiante...


– Vem pai! – Eu dizia – Vem assistir!


Você fazia que não, sorrindo, mas, eu sabia que queria participar da festa. Até que num determinado momento você foi mais forte. Entrou na sala de TV, se sentou na sua poltrona e se entregou. E aproveitou.


Era a enésima vez que eu assistia ao tal show, mas, aquela vez foi diferente porque também estava assistindo você curtir e quando chegou no final, ah pai, quando chegou no final você aplaudiu! E eu chorei.


Outro dia estava respondendo um questionário e a pergunta era: Quando você partir, quem estará esperando você do outro lado? Claro que pensei em você.


Pai, me espera viu? Beijo.

bottom of page