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VERSO PROFILÁTICO, POESIA CRIATIVA


 

A bactéria do coco do cavalo do bandido. É assim que tu te sentes? E me perguntas de que adianta te sentires assim? Bem...

Se pisam no teu pé e por educação não reages, não o retiras? Pobre do teu pé. Pobre da tua alma. Reparas bem e conta quantas vezes tu pisas nela e nem percebes. Tens dor? Sofres a dor? Sabes qual é a diferença?

Bem...


Ter dor é possuir brinco de argolas e não ter orelhas furadas. Tu não sabes o que fazes com elas. Ter dor é calçar sapatos apertados em pés calejados e nem perceber onde apertam. E se teu gato, de tanto que foi escaldado tem medo de água fria. Pobre dele que anda imundo e já não sabe mais o que é ser gato e poder ser acariciado.

Bem...


Ter dor e não sofrê-la é perceber que falta algo e não fazer ideia do que é. É saber de alguém ausente e não sentir a saudade que está presente. Ter dor é um incômodo improdutivo, é água que não lava, que não leva as impurezas embora, só releva e embolora. Deixa nódoas de mofo e oculta a beleza.

É chuva que não refresca. Tempestade sem bonança que vem depois

É crucificação sem ressureição. Ter um corpo morto e não poderes sepultá-lo. Não encontrar a vala de terra generosa para acolher a putrefação que virá. O eterno purgatório neste limbo do teu ser.


Fazes na tua orelha o furo do sofrer e uses o brinco da humanidade. Sejas homem ou mulher, mulher ou homem, pari tua verdade efêmera. Descarta a onipotência. Até Deus está cansado dela. Dobres e quebres tua arrogância como um cartão de crédito que ainda tem validade, mas, não queres mais usá-lo porque a tua dívida contigo mesmo está muito alta.


Se tu te sentes uma merda, sofres com isso? Verdadeiramente? Então chores. mas chores lágrimas molhadas. Não lágrimas de crocodilo. Lágrimas sentidas, doídas, salgadas.




Deixes que rolem e desenhem sulcos brancos em teu rosto vermelho e te façam ficar feio e inchado. Permitas que entrem pelos cantos dos teus lábios e sinta o sabor que elas têm. São tuas, não irão te envenenar.

Soluça. Procure uma caixa de lenços de papel ou um rolo de papel higiênico, e chores, chores, chores. Assoa o nariz com barulho! Enchas um cesto com lenços amassados e enxarcados de tuas mágoas. Esvazies o cesto e encha-o de novo. Quando o papel terminar, me peça que tenho mais para te oferecer. Mas não só isso.

Entoes as vogais do sentir que a porta da dor te abriu e não te esqueças do som da verdade do teu sofrimento. Não te esqueças que podes sofrer.

Sintas-te uma ameba mesmo que não sejas uma. Grite porque vai te parecer que o mundo acabou e perdeste tudo. Essa impressão passará porque não é isso. Não é verdade. Tu é que estás te ganhando de um outro jeito.


Chute Deus se assim o quiseres. Brigues com Ele. Ele não vai brigar contigo, nem te renegar. Ele é Deus! Não é você. Ele compreende o teu sofrimento e aceita a forma como tu sofres.


Ter dor e não sofrê-la é fruta verde que apodrece sem amadurecer.

Fruta sem néctar. Flor sem cor. É ser verão e não ter sol nem calor. Outono sem vento. Primavera sem flor. Inverno sem cobertor. É não saber (se) perdoar e nem como pedir perdão. É não ser alegre nem ser triste e não ser poeta.


Feche a cara para mim que aguardarei a hora que puderes receber o meu abraço amigo, solidário. A mudança já terá se iniciado.

Mas se tu só querias que te dissesse que te amo Bem, eu disse.


*Rosana de Almeida

Obs.: este poema foi escrito final da década de 90.

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