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O ÚLTIMO INCONFIDENTE, Mauro Silveira - uma resenha


Escrevo esta resenha de forma totalmente diferente do costume. E como costumo escrever? Quando estou completamente imersa nas emoções despertas pelo livro que acabei de ler, ainda ‘frescas’ em minha mente.


Com O Último Inconfidente está diferente. Deliciosamente diferente.


Durante a leitura tive o privilégio de compartilhar meus momentos de leitora com quem? Você pode imaginar?


Com o autor, ora? O sonho de todo leitor, o meu sim.


Com Mauro Silveira. Ele mesmo! Daí, está justificado porque foi uma leitura atípica.


Tão atípicos quanto, foram os momentos de convivência com Joaquim José da Silva Xavier, nosso bem querido Tiradentes. Interessante e prazeroso imaginar o mártir andando, falando e comendo na minha frente, assim como tendo ímpetos de raiva e ternura, se relacionando com Ignácio, o avatar do autor, sendo seu amigo e protetor. Gosto muito da interação entre ficção e realidade!


Mauro carregou essa história por 20 anos. Imagino o que deve ter sido. Gestação lenta, amorosa e caprichada e na hora de parir a dualidade entre entregar e deixar partir e o não querer se separar. Coisa minha isso.


A história contida n’O Último Inconfidente foi cuidadosamente estudada e pesquisada in loco pelo autor. Dá para perceber o amor por Ouro Preto e Congonhas, enfim, pelas Minas Gerais. Como me doía sentir o povo sendo esfolado pela corte portuguesa. O ouro indo embora e as minas e rios exauridos do rico minério. De chorar.


A história da história com personagens encantadores. Não sabendo quem admirava mais, o pai, José Maria, ou a mãe, Irene. Que casal! Feitos um para o outro. A despojada e audaciosa irmã Mariana e a delicada e forte esposa Aurora, nome tirado do romance Senhora. Uma homenagem do autor a José de Alencar.

Já imaginou o nosso alferes, Joaquim José da Silva Xavier. atravessando o Atlântico?

As cerejas do bolo e o autor reservou duas, uma para cada parte do livro. Fatos falados a boca pequena na região. A primeira: já imaginou o alferes Joaquim atravessando o Atlântico para se encontrar com Thomas Jefferson, na França? Essa hipótese encontra-se confirmada por alguns registros compilados pela pesquisadora Isolde Helena Brans.


Farei suspense da segunda. Fica como estímulo para você ler O Último Inconfidente.


E se na primeira parte o protagonista real ao lado do protagonista imaginário, Ignácio, é o próprio Tiradentes, na segunda é o escultor Antônio Francisco Lisboa, ninguém menos que Aleijadinho. Imagine você estar de frente com alguém de quem pouco se sabe, quase um mito. Ele, seus escravos, suas dores, flagelos e sua inteligência. Fascinante!


O Último Inconfidente é um mergulho na história. História que nunca devemos esquecer, pois faz parte da nossa identidade. Mergulho em uma ficção bem engendrada e contada como se estivéssemos sentados em volta de uma mesa com bules de chá e café fumegantes e bolo de fubá.


Aqueles momentos que não queremos que termine nunca.


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